
PSICANALIZANDO
IRMÃS E IRMÃOS,
ASSUNTO COMPLEXO!

Dra. Sylvia Lopes

Dra. Sylvia Lopes
Este texto tem origem bastante pessoal, minha trajetória como mãe. Meu filho tem quatro irmãos, mas não mora com nenhum deles, gerando uma experiência dupla de filho único e irmão de muitos. Em meu consultório, "stories" do Instagram, posts de Facebook, blogs de maternidade, grupos de whatsapp e roda de amigas tenho escutado mães preocupadas sobre as eternas e constantes brigas entre seus filhos.
A relação entre irmãos começou a ser profundamente estudada pela psicanálise no final da década de 1930, quando Jacques Lacan, formulou suas teses sobre os Complexos Familiares, dentre eles o Complexo Fraterno ou Complexo de Intrusão.
O Complexo Fraterno ou de Intrusão surge na criança a partir da constatação ou do temor de que os pais desejem ou possam desejar algo ou alguém que não ela. A criança entende que não é suficiente para satisfazer os desejos paterno/materno. Esta angustiante hipótese/constatação é decisiva para a constituição da pessoa, do Sujeito, afinal há ou poderá haver outro como eu, porém distinto de mim. Então aparece um irmão ou irmã, e imediatamente é instalada uma concorrência para definir "de quem meus pais mais gostam" ou para descobrir "quem é o primário, o original".


No consultório é comum observar que o primogênito em geral constitui sua personalidade sob grande influência da ideia/percepção de ser "o responsável", enquanto os caçulas formam-se na eterna comparação com alguém fatalmente maior, mais velho e que chegou primeiro. Aqueles filhos e filhas que nasceram entre estas duas situações, não são primogênitos nem caçulas nas famílias com mais de dois filhos, costumam ser os que chegam ao meu divã com dúvidas sobre seu lugar no mundo, justamente porque saboreiam tanto das experiências do mais velho quanto do mais novo.
Parece complexo, e é!
Brigas entre filhos são cansativas – e como! Mas é importante iluminar: uma vez que os Conflitos Fraternos são resolvidos, abre-se a porta para uma aprendizagem da solidariedade. Sem a experiência da irmandade (que também é experimentada na relação entre primos e amigos) a solidariedade não tem solo fértil para se formar.

Sendo assim a minha dica é incentivar a solução dos problemas com amor, justiça e equidade, entendendo que as crianças estão resolvendo questões muito além da posse de brinquedos.
