
ENTREVISTA

by Luiz Gustavo Alves
RUDSON MAZZORANA

Rudson Mazzorana nasceu em São Paulo em 18 de maio de 1983. É Jornalista e Roteirista formado pela Universidade Anhembi Morumbi. Graduou-se em Artes Cênicas pelo Macunaíma e realizou diversos workshops de interpretação para cinema, teatro e televisão.
Atualmente produz, e atuará, no espetáculo de sua autoria chamado “O Ovo da Serpente”, um drama cruel e ácido que fala sobre supremacia racial, preconceito, antissemitismo, violência e intolerância. A trama é um sádico acerto de contas entre um jovem psicopata (Rudson Mazzorana), uma ex-prostituta judia (Glória Rabelo) e um assassino de aluguel que trabalha para uma facção neonazista (Luiz Gustavo). O espetáculo, dirigido por André Grecco, estréia em 05 de Agosto às 21hs no “Viga Espaço Cênico”, localizado na Rua Capote Valente, 1323 – Pinheiros (São Paulo /SP). A equipe é composta por Heron Medeiros (cenógrafo), Fred Silveira (trilha sonora original), Dani Guerreiro (figurinista), Rafael Sunny (coreógrafo), André Grecco (designer de luz), Ricardo Peres (fotografia).
No teatro, atuou em espetáculos como “A Noite dos Assassinos” (de José Triana), “Entre Quatro Paredes” (de Jean Paul Sartre), “Dois Irmãos” (de Fausto Paravidino), “Calabar ou O Elogio da Traição” (de Chico Buarque), “Dois Perdidos em uma Noite Suja” (de Plínio Marcos), “Homens de Papel” (de Plínio Marcos), “Casados à Força” (Molière), “Sonhos de Uma Noite de Verão” (Shakespeare), entre outros.
Como dramaturgo, escreveu espetáculos como “Depois da Chuva”, “A Patrulha do Grito”, “O Ovo da Serpente” e “Se meu Sexo Falasse”. Tem dois livros os quais pretende publicar em breve intitulados “O Diário do Lobo” e “Retrato Falado”.
Possui vasta experiência como assessor de comunicação, redator, repórter e apresentador. Apresentou programas como “TV O Corretor”, “Programa Revista Rural”, “Dr. Dadá”, “Canal FEI Portas Abertas” e “Eqüus” bem como algumas edições do evento “A Rua do Choro”. Foi colunista imobiliário de jornais como O Estado de S.P, O Diário de SP, A Tribuna e Vale do Paraíba. Trabalhou como repórter investigativo no jornal “O Trabuco”, e escreveu diversas matérias para o “Guia da Noiva Brasil” e “Noivas no Campo”.
Possui alguns projetos de teatro os quais pretende estrear em breve: “Depois da Chuva” (texto inédito de sua autoria) e o clássico “Crime e Castigo”, de Dostoievski (adaptado pelo ator e dramaturgo) .
Como vocês podem ver, são 34 anos, de um taurino cheio de garra e competência.
REF: Você sempre se interessou pela arte cultural? Era o caminho que pretendia trilhar em sua vida?
RM: Desde pequeno sempre tive um carinho especial e um amor incondicional pela arte. Brincava de escrever roteiros de filmes e novelas. Os atores eram meu irmão e meus primos ou, então, meus bonecos. Lembro, também, que interpretava na frente do espelho do banheiro papéis os quais achava interessante. Adorava brincar de garoto propaganda também. Sempre tive uma mente criativa. Quando não tinha bonequinhos de plástico, eu fazia com papel higiênico. Era muito divertido. Bolava gincanas e, mais uma vez, botava meu irmão e meus primos para participarem. Meus pais sempre levavam meu irmão e eu para assistirmos peças teatrais. Quis ser ator a partir de um espetáculo infantil que assisti chamado “O Mágico de Oz”. O espetáculo possui uma mensagem muito bonita e mostra que ninguém é melhor ou pior do que ninguém, que todos nós temos limitações e defeitos (afinal, somos humanos) e nunca devemos deixar de perseguir nossos sonhos. Enfim, a arte, seja ela qual for, possui uma beleza única e uma energia visceral. Ela revela sobre nossa alma, nossas vontades, ideologias e pensamentos.
REF: Teatro, cinema ou TV, de qual você mais gosta?
RM: Cada um tem sua magia, mas prefiro o teatro. Ator de verdade precisa fazer teatro. É a base de tudo. Não há cortes nem máscaras. Você consegue sentir a energia do público, ver as reações, e até escutar os pensamentos. Teatro é como a vida, tem que ser ágil, ter jogo de cintura e capacidade de improvisar e usar a criatividade. É preciso ler e estudar muito para não ficar só na técnica. O ator tem um papel importante na sociedade. Ele auxilia a formar opiniões, influencia ideias, diz o que muitos não têm coragem, mostra a realidade, coloca o dedo na ferida. Televisão pode te dar mais visibilidade e popularidade, mas é engessada. Às vezes, não oferece a possibilidade do ator mostrar o seu ofício com clareza e profundidade.
REF: Qual trabalho foi mais marcante na sua carreira?
RM: Todo trabalho é marcante. Cada um traz uma história e um objetivo diferente. Mas, se for para escolher, acredito que foi minha primeira montagem do espetáculo: Entre Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre. Esta é uma obra existencialista fantástica que mostra que o inferno são os outros. Um espetáculo difícil de ser feito, no entanto, os insólitos personagens são simplesmente incríveis. Montei duas vezes com elencos diferentes, mas com a mesma diretora (Sônia Fonseca) a qual tenho enorme respeito. Na segunda montagem, além de dirigir, ela atuou. Estamos pensando em remontar de novo.


REF: O que é viver da arte cultural no Brasil, nos dias de hoje? Você gostaria de viver em outro País? Qual?
RM: Amo o meu País. Além de ser muito rico culturalmente, é formado por um povo guerreiro que tem muita criatividade e força de vontade. No entanto, há certas laranjas podres que estragam a fruteira. Precisamos aprender a votar, a falar menos e fazer mais, a agir ao invés de criticar e respeitar as diferenças e raças. Muitos sobrevivem de arte, porque viver confortavelmente dela é algo para minoria. Consigo ver arte em tudo: nos muros, no metrô, nas ruas e nos becos. O brasileiro é um artista: é malabarista, contorcionista, mágico e palhaço. Já viajei para alguns lugares. Além de ator, sou jornalista e professor de Inglês. Gosto dos Estados Unidos, por exemplo. Aprecio a organização deles, bem como algumas leis, regras e pulso firme. Mas também abomino algumas atitudes e governantes. Mas Brasil é Brasil. Há muita beleza e riqueza aqui. O povo é uma joia que precisa ser lapidada. O que estraga é a politicagem, é o voto sem consciência, a saúde em estado de emergência, a falta de empatia e a educação preguiçosa de muitos.
REF: Do que, você acredita que sejamos reféns nos dias de hoje, para uma ascensão nesta área?
RM: Não há como ter ascensão em área alguma sem estudo e bons livros. Embora haja certas coisas que não há em cartilhas como o respeito e a educação. Somos reféns de nós mesmos e devemos tomar cuidado com isso. Cuide bem do seu quintal, adube bem sua terra e a colheita será bem sucedida.
REF: Existe muita cobrança para um padrão de forma física? Como você vê isso?
Rm: Há espaço para todo mundo, mas há certos perfis que são mais valorizados. Acho isso tão pobre. O ser humano deveria ser mais do que peito, bunda e músculos. A futilidade, o preconceito e a intolerância são ovos que devem ser eliminados. A cobrança por um padrão físico bem como a cor de pele ou tipo de cabelo é algo que adoece algumas mentes, causa dependência e desconforto. As pessoas devem ser felizes do jeito que são. Danem-se padrões, formas e rótulos. Seja você mesmo e mostre o seu valor. A mídia deveria dar mais espaço para os negros, idosos, anões, pessoas com limitações físicas e mentais, mestiços, entre outros.
REF: Como você vê o esquecimento de grandes nomes da arte cultural?
RM: Um desperdício. Há grandes artistas que estão na geladeira ou foram simplesmente abandonados pela mídia e pelo povo. Acho muita hipocrisia valorizarem o talento de muitos após a morte. O artista morreu e virou Deus. Mas quando estava vivo, foi “usado” e depois esquecido sendo entregue ao pão que o Diabo amassou. Entendo que o tempo passa e o mercado muda, entretanto, talento não nasce em árvore. Quem tem talento, deveria ser muito bem aproveitado independente de idade ou raça. Há muita porcaria por aí. Os valores estão invertidos. O que vemos são vitrines e onde fica o conteúdo?
REF: Você acredita que o jovem possa representar melhor a arte do que o mais experientes? Você vê essa predileção acontecendo na televisão, no teatro e no cinema?
RM: Vejo muitos atores experientes sendo descartados ou considerados incapazes. O jovem tem o frescor, a pele esticada, o corpo no lugar e o tesão à flor da pele. No entanto, os mais experientes têm vivência, técnica, inteligência e malícia. Acho que cada geração tem seu papel e importância. É lógico que há predileção pelos mais novos, principalmente na televisão. A televisão deveria aprender com os grandes dramaturgos de teatro a criar papéis mais relevantes e densos para os mais experientes, que possuem muita lenha para queimar ainda.
REF: Se você tivesse que escolher outra área de trabalho, hoje, para sobreviver, qual seria?
RM: Sou formado em Artes Cênicas, mas também possuo graduação em Jornalismo e Roteiro. Além disso, leciono Inglês. Todas estas áreas se complementam e se fortificam. Nunca fico a pé.
REF: Você já teve um grande amor, tem ou terá um dia? O que o faz pensar assim?
RM: Meu coração está pleno, preenchido e feliz. Mas antes de amar o outro, devemos amar a nós mesmos. Nós precisamos ser o grande amor de nossas vidas.
REF: Você teve a sua vida exposta pela mídia, se sim, isso o magoou?
RM: Todo artista tem a intimidade, às vezes, invadida. Há pessoas que se esquecem de que somos humanos e cometemos erros. O negócio é evitar grandes tropeços, estipular limites e ter uma conduta de respeito com o público e mídia. Não sou de guardar mágoa nem rancor, isso não acrescenta nada, só subtrai. Fofocas e invasão de privacidade sempre haverão, se escolhemos ser artista, sabemos dos riscos. Então, não reclame e siga em frente.
REF: Qual o balanço que faz dos seus 34 anos?
RM: Sou apenas um menino com muitos sonhos a serem conquistados, caminhos a serem percorridos, viagens a serem feitas e objetivos a serem atingidos. Choro como qualquer um, dou risada, piso na bola, caio e levanto. Em suma, tenho uma vida muito feliz, pois tenho saúde, família e amor. Não me falta nada. E, se faltar, eu corro atrás, vou lá e pego.


REF: Aonde você busca reabastecer as suas forças, quando estas se desgastam?
RM: Faço coisas que me dão prazer como estar com família e amigos, ir ao cinema e teatro, dançar, cantar, viajar. Rezo muito também e acredito que todos nós devemos cuidar da nossa espiritualidade. Mente sã, corpo são.
REF: A ideia da “velhice” o incomoda?
RM: É preciso envelhecer com sabedoria e qualidade de vida. O tempo passa para todos nós e devemos aprender com cada fase de nossas vidas. Não devemos nos incomodar com algo que é natural. Precisamos descobrir a beleza de cada ciclo. Com a idade, aprendemos a ser melhores como seres humanos e a enxergar o que antes não conseguíamos. Envelhecer é ter olhos mais vivos. É ter mais paciência, o coração menos mole, a mente mais aberta e os pés mais fixos ao chão.
REF: Como você vê a instituição família nos dias de hoje?
RM: Para mim, família é a base da pirâmide. No entanto, sinto falta disso em muitas pessoas. Vejo muitas famílias infelizes por motivos mesquinhos, banais e pequenos. Ao invés de plantarem amor e união, plantam ódio e solidão. Amo minha família e gostaria que todos tivessem a sorte que eu tenho.
REF: Se comparar a sua juventude a juventude de hoje, o que teria piorado e o que melhorou?
RM: Antes os jovens sabiam se divertir com mais inteligência. Não havia tanta distância e carência. As brincadeiras eram mais simples, inocentes e saudáveis. Com a tecnologia, muitos jovens têm se tornado robôs e reféns da própria solidão. É um paradoxo. A tecnologia tem como objetivo conectar, informar e resolver problemas de forma mais rápida e prática, entretanto, muitos a usam erroneamente e se enclausuram em um mundo particular e vazio.
Bate bola:
Cor: amarelo, vermelho e azul
Prato: Bife a parmegiana, frango xadrez e estrogonofe de frango
Mania: Balançar meus pés quando ansioso, pensativo ou inquieto. Medo: ficar cego ou perder a saúde física e mental.
Sonho: Ser mais feliz do que hoje
Ídolo: Meus pais. Amo a força do meu pai e a energia de minha mãe.
Modelo de Vida: Saudável, bem-humorado e aventureiro.
Paixão: Escrever e atuar
Ódio: Deixo isso para os fracos ou menos evoluídos.
Fé: Toda energia que me fortalece o coração e a alma, sem nome ou rótulos.
Esperança: Enxergar o ser como humano sem preconceito, violência e intolerância.
Saudade: De tudo aquilo que deixei de fazer por medo ou preguiça.
Alegria: Viver com saúde, ter uma família e um teto.
Uma mensagem:
Escreva a sua história e deixe as dos outros em paz. Lute com a fé de quem nunca duvidou e a certeza de quem já venceu. Veja do que é feito o seu teto antes de avaliar a arquitetura do vizinho. Fale menos, e faça mais.
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