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ENTREVISTA

 by Luiz Gustavo Alves

RODRIGO VELLONI

JULIANA AREIAS é brasileira, natural de São Paulo, criada nos arredores da Avenida Paulista. É cantora e compositora,  estourou na Austrália, onde mora há nove  anos, com o disco Bossa Nova Baby, produzido via crowdfunding e patrocínio do Departamento de Cultura e Arte da Austrália.  Agora traz toda sua alma e bossa para a turnê brasileira, que começa por São Paulo, no dia próximo sábado, 17 de dezembro, vai para o Rio de Janeiro, no dia 28 de dezembro, com show marcado no lendário Beco das Garrafas, e segue por Salvador, Fortaleza e Brasília 

REF: Você pensava em ser cantora?

JA: Já pensei em ser várias coisas, mais ou menos nessa ordem cronológica: bruxinha do bem (desde sempre) , cantora, desenhista, bailarina, professora de dança, atriz ( e sou desde os 13 anos), pesquisadora, jornalista, publicitária, adminstradora, psicóloga, diretora de teatro, cenografa ( fiz Belas Artes e fui sócia de um atelie de Cenografia em Salvador entre 1993-1996 antes de sair do Brasil) , professora de história, diplomata, pesquisadora de genealogia ( sou há mais de 10 anos, amadora), escritora... Tomar coragem pra me assumir cantora, no entanto levou bons anos, porque eu achava que só os “deuses da voz” podiam cantar, os meus idolos, como se fosse necessário ter um cantar perfeito para fazer jus a profissão. Até que chegou uma hora que a necessidade de cantar, de me expressar com a minha voz se tornou mais forte que qualquer medo, insegurança ou auto-sabotagem. 

REF: Você se lembra da primeira vez que pisou em um palco? Como se sentiu?

JA: Meu primeiro “palco” como cantora foi o motor de um onibus, aquela caixa preta que ficava ao lado do motorista. Aos 5 anos, em 1980, uma vez subi nessa caixa e cantei “ Lança Perfume” da Rita Lee para os passageiros do onibus, minha primeira audiência (risos)... Depois disso, outros palcos vieram... Foi no teatro, ainda em São Paulo em 1988 que eu aprendi que o palco é sagrado, graças ao meu amado professor de teatro Luiz Gustavo Alves, do qual sou eterna pupila. 

REF:  Teve um show que mais marcou a sua vida?

JA: Assistir Tom Jobim, meu compositor predileto no Ibirapuera, no dia 28 de novembro de 1993. Cheguei la  cedo, para ficar na primeira fileira. Até hoje me emociono de pensar na beleza daquele show, na minha alegria de estar lá... Na minha adolescência também, antes desse show do Tom, graças ao querido amigo e jornalista Ruy Castro, autor de “Chega de Saudade – as histórias e as estórias da bossa-nova”; tive a oportunidade de fazer parte dos bastidores do show “ Chega de Saudade” , baseado no seu livro, e dessa forma conviver com alguns dos meus ídolos, Ronaldo Boscoli, Luizinho Eca, Jonny Alf, Peri Ribeiro... dessa vivencia única nasceu a inspiração do meu cantar e compor. 

 

REF: Existe muita cobrança para um padrão de forma física? Como você vê isso? Você envereda por esse caminho por si mesmo ou pelas cobranças que fazem?

JA: Sem muita piração, procuro me exercitar, porque além de ser bom para o  corpo, para mente, é também essencial pra minha respiração. Aqui em Perth, na costa ocidental da Austrália, onde moro, faço aulas de samba de gafieira , uma das minhas grandes paixões, e ando de biclicleta com meu amor, o Geoffrey, na praia. Também curto duas vezes por semana apenas ir nas aulas de body balance e de pilates da academia. Digo sem muita piração porque não abro mão dos prazeres de comer as coisas que gosto, como chocolate, sorvete, queijos... mas gosto sim de manter a forma e sou bastante disciplinada e persistente com as decisões que tomo em relação ao meu corpo, meu trabalho e vida em geral.

 

REF:  Se você tivesse que mudar de carreira hoje, para sobreviver, o que escolheria fazer?

JA: Praticamente nunca trabalhei como empregada, sempre fui autônoma, dona do meu próprio negócio, o que se por um lado significa ter que lidar com instabilidade e riscos contantemente, por outro lado, me permite trabalhar quando e de onde eu estiver. Então idealmente um trabalho que eu possa fazer de onde estiver, do meu computador laptop, por exemplo. No entanto, mesmo que eu tenha que fazer outro trabalho para sobreviver ocasionalmente, esse outro trabalho é sempre secundário. A minha carreira artística é sempre a minha identidade profissional principal. 

 

REF: O que é viver no Brasil nos dias de hoje? Você gostaria de viver em outro país? Qual?

JA: Estou fora do Brasil desde 1996, há vinte anos exatamente. Já morei na Suiça, na Nova Zelândia e agora na Austrália.  Desde a infância, nos meus 5 anos, tinha o sonho de morar na Suíça, inspirada por uma pessoa muito especial na minha vida, a Márcia Vianna, ex- namorada do meu pai, que depois se casou com uma outra pessoa e se mudou pra Suécia, que eu achava que era Suíça(risos)... Quando  descobri que ela na verdade estava na Suécia, ja era tarde demais, o sonho de morar na Suíça já tinha se concretizado. Ela me enviava cartas, postais , fotos, presentinhos de lá e eu pensava, quando, crescer , quero morar na Suíça. Dito e feito, aos meus 21 anos me mudei pra Suíça, pra viver do que eu cantava. Pensei que nunca mais iria sair de lá, mas motivada pelo amor, sai, acabei virando mãe de dois seres especiais Jobim e Lilas na Nova Zelândia e hoje estamos aqui em Perth, onde conheci o amor da minha vida, o Geoffrey.

REF: Do que as mulheres são reféns hoje? Da baixa estima, do silicone ou da falta de emprego? Qual a sua visão disso?

JA: Nós só podemos ser refens de nós mesmos. Por trás da baixa estima, do silicone, ou da pressão de ser profissional, mãe, esposa, filha, amiga, tudo ao mesmo tempo, está  nós mesmos. Se existe algum problema, procurar se entender e se resolver, isso é sempre melhor do que se colocar no papel de vítima culpando a sociedade, a família, a crise, o machismo, o racismo, o sistema...  Assumir que só nós podemos nos libertar e nós mesmos, e  que a mudança do mundo começa pela mudança em  nós individualmente,  pode até inspirar outras pessoas a se aprimorarem também.  Prestar atenção constantemente no que é que a gente está pensando e se o que a gente está pensando ajuda ou piora as situacões. Se não ajuda, procurar um outro ângulo, um outro pensamento, atitude e ação que ajudem. É um exercício contante,  trabalhoso, cheio de desafios diários, dias que a gente se sai melhor, dias que a gente não da conta, mas sempre vale a pena persistir no aprendizado! E procurar entender a beleza do que é ser pleno, luz e sombra, harmonia e caos, estagnação e movimento. Gosto de contrastes.

REF: Como é a relação com seus familiares?
JA: Vivo tão longe... na capital mais isolada do mundo, Perth, más graças a essa maravilha chamada internet, whatsapp e afins,  fica mais fácil manter contato ainda que virtualmente. Mesmo assim, não sou do tipo que fala e ve via skype toda semana, pois gosto de sentir saudade. Não quero ter a impressão de que estamos perto físicamente, quando estamos longe... más sim sempre em sintônia e perto da alma, das lembranças e do coração. Fazem 9 anos que não volto ao Brasil, que não vejo meus pais,  toda a família com exceção do meu amado irmão Miguilim ( Rodrigo) que sempre vem me visitar e hoje mora em Melbourne. Nem sei o que vou sentir quando chegar ai no Brasil e poder ver, abraçar, cheirar, beijar, ouvir a voz, a respiração, sentir a pulsação, a emoção das pessoas e depois de tudo isso ainda poder subir aos palcos do Brasil e poder cantar e apresentar meu bebe musical “ O Bossa Nova Baby” pra elas... Além de poder ver meus filhotes e o Geoffrey com minha família e amigos também... as pessoas, os locais , as histórias da minha vida se unindo, se encontrando... 

REF: Eles te vêm como uma pessoa diferente ou acham normal a sua profissão e as restrições a que se sujeitam? JA: Creio que se preocupem com  todo o risco, instalibilidade e oscilação envolvidos numa carreira artística, más ao mesmo tempo, se sentem felizes de eu trabalhar com o que amo e festejam comigo cada passo e conquistas dessa trajetoria sem fim. 

REF: Você já teve um grande amor, tem ou terá um dia?

JA: Já tive alguns grandes amores e hoje vivo o amor da minha vida com o artista escultor cibernético australiano Geoffrey Drake-Brockman ( www.drake-brockman.com.au ). O gostoso da gente ter se descoberto já depois de termos vividos outras relações, e sermos pais de 2 filhotes amados de cada lado, é que sabemos valorizar nosso amor, viver bem nosso dia a dia, conquistar juntos os nossos sonhos, sermos fanzões um do outro, nos apoiarmos e inspirarmos mutualmente, nos admirarmos, nos ajudarmos, nos divertimos, dividirmos nossas famílias...Ah , o viver é extraordinário, ao lado dele...

REF: Você sempre teve (ou tem) a sua vida exposta pela mídia, isso a magoou?

JA: Tenho a midia como amiga. O artista está sempre completamente nu, exposto a opinião, gostos pessoais das pessoas, críticas de todos os lados... nem toda crítica é favorável, nem toda critica é construtiva , faz parte do jogo, não dá pra ser artista , sem saber lidar com a rejeição contante.  Geoffrey e eu conversamos sempre muito sobre isso.  Nem sempre uma visão artística é aceita, está na moda. Ao artista cabe continuar acreditando, produzindo, fazendo valer a sua visão com integridade. Creio que essa seja a questã chave, as pessoas podem falar, pensar o que elas quiserem de você ou do seu trabalho, tudo bem , desde que o que você seja e esteja fazendo continue fazendo sentido pra você mesmo, você zelando pela honestidade e integridade artistica do seu trabalho.

REF: Qual o balanço que faz dos seus 41 anos?

JA: São 41 aninhos de muitas aventuras, aprendizados, desafios, conquistas, inspirações, pessoas, lugares, canções... Feliz de ter conseguido dar a luz ao meu primeiro álbum autoral “Bossa Nova Baby” um filhote sonhado e gestado por 15 anos, e que nasceu aqui em Perth, tendo sido produzido com alguns dos melhores músicos australianos. Agora ansiosa pra apresentar esse filhote mestiço Brazuquinha-australiano ai no Brasil, e poder mostrar um pouco desse “Brasil “que o Brasil não conhece .

REF: Aonde você busca reabastecer as suas forças, quando estas se gastam?

JA: Reabasteço minhas forças com meu amor Geoffrey, meus filhotes Jobim e Lilas, meus amigos, e dialogando comigo mesma, com Deus e com o mundo atrás da própria música. Todo dia costumo acordar com uma música na cabeça, que traduz lindamente o meu estado de espírito naquele momento, minha rádio interna. Prestando atenção nessa rádio, analizo meus pensamentos, sentimentos, emoções, motivações e sigo em frente. Como bem diz Lenine “ eu envergo, mas não quebro”. 

REF:  A ideia da “velhice” a incomoda?

JA: Envelhecer faz parte da vida e tem sua beleza, como as outras etapas da vida também... Envelhecer significa completar mais uma nova volta ao redor do sol a cada ano, isso é uma vitória, é bonito e emocinante, enquanto se tem saúde, está tudo bem. Sou grata pela vida, sou feliz de estar viva e vivendo bem, com saúde, com amor, com pessoas lindas, inteligentes, interessantes, divertidas, talentosas sempre ao meu redor.

 

REF: Como você vê a instituição família nos dias de hoje?

JA: “A família é uma mini sociedade e a sociedade é uma grande família”, escrevi em um dos meus primeiros poemas aos 13 anos.  A família como instituição idealizada não existe mais, se é que algum dia existiu. Então a idéia de família normal, família padrão está sendo aos poucos revista, porque “Ninguém de perto é normal” como canta Caetano, logo nenhuma família será absolutamente “normal” . Acho legal  que a nossa visão de realidade esteja ficando cada vez mais plurificada. 

Bate bola:

Cor: verde e Lilás

Prato: moqueca de camarão

Mania: de persistir, meu maior talento

Medo: de baratas voadoras!

Sonho: cantar minhas músicas no Carnegie Hall de Nova York e ouvir outros interpretes gravando minhas músicas.

Ídolo: Antonio Carlos Jobim Modelo de Vida:  a democrática australiana

Paixão: Muitas! Pelas pessoas amadas da minha vida, pela música, pela gafieira, pela genealogia...

Ódio: palavra muito pesada, mas vamos lá... odeio burocracia e corrupção. 

Fé: no que se faz  e cria em prol do coletivo

Esperança: Esperança de que a gente pare de esperar e comece a fazer acontecer mudanças no Brasil... Saudade  de Itapuã. 

Alegria: de viver ao lado do meu amor e meus filhotes 

Uma mensagem:  

Contando os dias pra chegar ao Brasil e poder dar a  luz ao Bossa Nova Baby nos palcos brasileiros . Fica aqui o convite e obrigada pelo carinho e interesse em descobrir esse trabalho feito como muito amor e verdade. Ouca aqui:  www.julianaareias.com

Para ouvir “Flecha”, “Maré Cheia”, “Belas Artes” e “Última Canção de um Amor” em streaming:

 

https://soundcloud.com/juliana-areias-1/sets/bossa-nova-baby-cd-order

 

Para baixar o álbum:

 

https://www.dropbox.com/sh/ol93um5x3vvzdcy/AADRm7MR80jRUW323v9_qNqna?dl=0

 

Fotos e vídeos em:

 

www.julianaareias.com

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