
ENTREVISTA

by Luiz Gustavo Alves
RODRIGO VELLONI

RODRIGO VELLONI é ator e produtor de teatro, é natural de São Paulo, com uma carreira repleta de grandes obras e parcerias. Iniciou no teatro aos 11 anos de idade, e hoje, aos 38 anos, temmuita história para contar. É casado com a talentosíssima atriz Mariana Santos, e tem um filho de 17 anos. Vale muito a pena conhecer a maravilhosa trajetória de vida dele.
REF: Você sempre se interessou pela arte cultural? Era o caminho que pretendia trilhar em sua vida?
RV: Com 11 anos comecei a fazer teatro, na escola da Ligia Cortez – Casa do Teatro. Foi tudo muito curioso, porque daí pra frente nunca me perguntei se estava no caminho certo ou errado. Simplesmente fui levado a vida, estreitando cada vez mais minha relação com o palco e não tenho dúvida que acertei. Era muito novo para tomar uma decisão dessas, mas como ela veio sem questionamentos, naturalmente fui seguindo.
REF: Teatro, cinema ou TV, de qual você mais gosta?
RV: A minha história é toda feita no teatro. Passei por alguns momentos pela televisão, publicidade, etc., mas minha vida é no teatro.
REF: Qual trabalho foi mais marcante na sua carreira?
RV: Essa é uma pergunta bem difícil de responder, porque são 27 anos estudando e me dedicando para o meu trabalho. Naturalmente fiz muitas coisas, mas vou destacar "Um Circo de Rins e Fígados", meu último trabalho como ator, que tinha Marco Nanini no palco. Ele sempre foi para mim referência, um dos maiores, um patrimônio do teatro. Eu tinha 25 anos, ainda trabalhava apenas como ator e neste espetáculo comecei a perceber que pensava como produtor. Fui convidado por ele e Fernando Lobonati, seu sócio, para trabalhar na "Pequena Central de Produções Artísticas", produtora deles. Fiquei por lá, no Rio de Janeiro, 1 ano e na volta fui convidado pelo Vladimir Capella para ser seu assistente de direção numa remontagem de "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá". Nos demos muito bem e já no seu próximo espetáculo assinei a direção, a minha primeira: "O Colecionador de Crepúsculos". Trabalhamos juntos por quase 10 anos até eu começar minha parceria com Jô Soares em "Atreva-se", espetáculo de Mauricio Guilherme. Este trabalho teve um papel importante na minha carreira de produtor, pela excelência artística, pela longevidade e pela projeção.
REF: O que é viver da arte cultural no Brasil, nos dias de hoje? Você gostaria de viver em outro país? Qual?
RV: O Brasil anda num momento muito delicado, politicamente muito comprometido e isto reverbera para o país inteiro, em todos os segmentos e, principalmente, nas pessoas. Então, viver no Brasil está complicado, mas eu acredito na força do nosso povo, acredito na força do meu país e a arte serve para apontar caminhos através da reflexão e conhecimento. Arte é fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação. Então, quando a situação é muito delicada como esta, me sinto contribuindo quando consigo montar 3 espetáculos neste ano, gerar empregos, me desenvolver enquanto empreendedor cultural. Esta é a minha contribuição e continuará sendo assim. Portanto, quero morar no meu país e, desta forma, ajudar na transformação que merecemos.


REF: Do que, você acredita que sejamos reféns nos dias de hoje, para uma ascensão nesta área?
RV: O investimento cultural. Não só para o teatro, mas para todos os segmentos artísticos de forma democrática.
REF: Existe muita cobrança para um padrão de forma física? Como você vê isso?
RV: Eu acredito que a maior cobrança vem da gente mesmo e quando você está bem com você, com seu corpo, nada te afeta. Veja, não sou mais um jovenzinho, então, tento me cuidar ao máximo dentro do pouco tempo que tenho por conta de muito trabalho. Vou a academia, faço pilates, cuido da alimentação e vivo a vida. Acho que tem que ser assim.
REF: Como você vê o esquecimento de grandes nomes da arte cultural?
RV: Sinto que está ligado ao que disse sobre o investimento cultural. Vejo uma mudança muito grande na forma de produzir a partir das leis de incentivo. A parte burocrática hoje em dia é bastante difícil porque exige conhecimento específico. Mas o mais difícil é que hoje se produz captando recursos e esta é a parte mais complicada. Portanto, vejo algumas pessoas que foram empreendedores no passado e hoje não conseguem viabilizar projetos e atribuo muito a esta questão. Agora, posso ler na sua pergunta esquecimento quanto a imagem, certo? Principalmente por parte da televisão....se for isso, acho que todos já presenciamos algum desrespeito a uma carreira, com algum ator que admiramos e no futuro o vimos pedindo um trabalho para viver, ou algo parecido. Não sou profundo conhecedor do meio, mas entendo que a televisão é uma máquina comercial e funciona desta maneira. Por mais que nos incomode, é assim e pendo que os atores que vivem dela devam expandir suas ações artísticas, ganharem autonomia, porque nela tudo gira muito rápido.
REF: Você acredita que o jovem possa representar melhor a arte do que o mais experientes? Você vê essa predileção acontecendo na televisão, no teatro e no cinema?
RV: A maior vantagem de você trabalhar com o teatro e a televisão é que sempre vai ter um personagem pra você, não tem limite de idade. Isso é incrível. Todos nós acompanhamos grandes nomes envelhecendo na televisão, por exemplo, e alguns deles trabalhando com maestria do começo ao fim. Isso é maravilhoso.
REF: Se você tivesse que escolher outra área de trabalho, hoje, para sobreviver, qual seria?
RV: Espero não precisar encontrar uma outra área para trabalhar(risos). Como lhe falei, desde os 11 anos trabalho com teatro e nunca me vi fazendo outra coisa. Migrei de ator para produtor, mas meu trabalho é o teatro. Agora, por uma necessidade de sobrevivência, para mim não seria demérito nenhum ter que exercer outra função na vida, só não gostaria, porque são 27 anos me dedicando para o palco.
REF: Se comparar a sua juventude a juventude de hoje, o que teria piorado e o que melhorou?
RV: Não sei se a questão é o que piorou ou melhorou, ela mudou. Mudou pela quantidade de informação que os jovens de hoje tem em relação a minha juventude, que historicamente, é muito pouco tempo de diferença, mas a gente toma dimensão disto que estou falando exatamente por isso. Podemos imaginar então daqui 20 anos...o cuidado que os jovens de hoje precisam tomar é: muita informação e pouca ação.


REF: Você já teve um grande amor, tem ou terá um dia? O que o faz pensar assim?
RV: Vou dividir em duas respostas, porque tenho dois grandes amores.
Aos 21 anos fui pai, Vinícius, e este amor é incontestável, o mais puro que pode existir.
E meu grande amor, Mariana Santos. Há dois anos estamos juntos e quando tudo faz sentido, e você descobre o amor, também se torna incontestável.
REF: Você teve a sua vida exposta pela mídia, se sim, isso o magoou?
RV: Nunca para o mal sentido. Estou casado com uma atriz e é natural que coisas saem na internet ou em alguma matéria. Vejo tudo de forma tranquila.
REF: Qual o balanço que faz dos seus 38 anos?
RV: Sinto que caminho bem no meu trabalho. Tenho muita dedicação com o que faço e vejo que as coisas vão acontecendo, os trabalhos vão saindo. Tenho tentado focar ainda mais e descobrir espaços no dia a dia para coisas que ainda não pude fazer. Tirar um tempo livre, viajar mais e ficar com minha família e amigos. Mas o mais importante é que sou muito feliz com tudo que tenho, então, está tudo certo.
REF: Aonde você busca reabastecer as suas forças, quando estas se desgastam?
RV: Minha casa. Lá é onde melhor me sinto.
REF: A ideia da “velhice” o incomoda?
RV: Olha, tenho pensado que se conseguir viver da melhor maneira possível cada etapa da vida, tentando sempre ser melhor, transparente, sem deixar ‘’contas’’ para trás, a velhice pode ser tão bonita quanto a infância, só que por um outro ângulo.
REF: Como você vê a instituição família nos dias de hoje?
RV: Família pra mim é amor, o que a gente pode ter de mais sagrado e intocável. O conceito família pra mim é este, o formato, como ela se configura, cada um tem o direito de escolher.
Bate bola:
Cor: vermelha
Prato: comida da mãe
Mania: pegar no pé do meu filho (risos)
Medo: falta de segurança
Sonho: igualdade social
Ídolo: Charles Chaplin
Paixão: cavalos
Ódio: neste momento: políticos
Fé: na democracia
Esperança: ter algum político que me represente no meu país.
Saudade: avós
Alegria: uma cervejinha

Uma mensagem:
Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá.
Charles Chaplin








